sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mais organizado para os donativos

Por falta de conectividade, o texto de ontem só foi postado agora (leia abaixo também).

Agora final da manhã de 28 de novembro.
Aproveitei o toque de recolher para descansar bastante, apesar de que a impotência de não poder mais ajudar efetivamente, aliado às pancadas de chuva da madrugada aumentam a agonia e dificultam por demais o sono. Novos deslizamentos foram registrados na madrugada, mas felizmente as notícias dão contade que as casas atingidas já haviam sido evacuadas anteriormente. Hoje, ainda há grossas camadas de nuvens negras, mas há também grandes espaços onde o sol brilha forte e, pela primeira vez desde que vim a Blumenau, não me importo nem um pouco de "queimar o lombo". O tempo começa a limpar!
Os helicópteros voam como nunca e as equipes do exército e defesa civil têm melhores condições de trabalho.
Ontem o trabalho foi basicamente auxiliar a logística de distribuição da água. No dia anterior, bem cedo pela manhã, ajudei a descarregar um caminhão de água na EB Victor Hering. Com as notícias de que não mais havia água em alguns abrigos, o contato facilitado com membros da defesa civil (construído nos dias anteriores) me permitiu acesso mais facilitado aos coordenadores de cada abrigo e, com o auxílio dos voluntários a água foidistribuída aos locais mais precários. Com a entradade novos caminhões na cidade, grande quantidade de água já está disponível para distribuição na central (setor 3 da Vila Germânica), apesar de que o consumo é muito rápido e água potável sempre precisa.
O exército trabalha rápido na construção de pontes modulares e vai abrindo acessos (os relatos apontam que o Progresso e Zendron já estão acessíveis, rumo ao Jordão, Nova Rússia e áreas isoladas no Garcia, essa ainda cabe checar, mas pessoalmente acredito). As estradas pelo estado começam a ser liberadas e, principalmente na BR-101 já há vários trechos com meia pista liberada, principalmente para passagem de carga.
Segundo informações da Ana (ver comentário na penúltima postagem) faltam legistas para liberação dos corpos nos hospitais, o que reforça meu argumento de que a contagem (atualmente pouco mais de 20) de mortos não evolui por "falta de perna" nessa estrutura em específico. Tem que dar conta dos corpos do IML, dos hospitais, abrir os caminhões frigoríficos, recolher dos escombros, desenterrar, fora o que já "se deu jeito" (de maneiras diversas). Não é insensibilidade, precisa-se tratar essa questão que, acima de tudo, pode se constituir um grave problema de saúde pública.
Curtas e grossas:
- Apesar do toque de recolher e de todo o relatado, já há danceteria na cidade divulgando festa PARA HOJE!
- A imprensa nacional redescobriu Blumenau!!! A água já havia baixado quando começou-se a noticiar a tragédia, até então eram apenas notas de cheias em SC. Agora tudo que é caco de pseudo-celebridade jornalística ou não, recebe uniforme personalizado do exército e passeia de helicóptero. Se está sobrando, tem uma penca de voluntários desde domingo com a mesma calça, que já secou e molhou várias vezes. O trabalho das forças armadas tem sido excelente, mas tem coisa que é duro de ver por aí...
- POVO DO VALE: estamos apinhados de roupas!!!!! Já que não se coordena nenhuma comunicação nesse sentido, aviso eu:
Alimentos não perecíveis e roupas estão sendo enviados aos caminhões para cá e serão importantíssimos na fase de realocação dos flagelados, mas para já (e é por isso que direciono principalmente ao povo do Vale) precisamos doações de (sem ordem de importância):
1- Alimentos prontos (chocolate, biscoito, carnes enlatadas em geral, barras de cereal, etc. NÃO ARROZ, FEIJÃO E MACARRÃO COZIDO).
2- Material de higiêne pessoal (escova de dente, creme dental, sabonete, xampú, papel higiênico, fraldas para bebês e geriátricas, absorventes de todos os tamanhos, etc.)
3- Alimentos para bebês
4- Material de limpeza leve (detergente, sabão, desinfetantes, vassouras, baldes, rodos, etc.) e pesada (pá, enxada, etc.)
5- Água para consumo (preferencialmente em embalagens de 5 litros e menores).

No futuro, comecemos a pensar em tijolo e cimento...

POVO:
Nem Prefeitura, nem Defesa Civil, nem ninguém está ligando ou mandando motoboy para recolher doações em dinheiro!!!!! Não acredite!!!!! Pegue seu rico dinheirinho e deposite nas contas oficiais (existe para todos os gostos, Governo do Estado, Defesa Civil, cada emissora de tv tem uma, entidades filantrópicas, informe-se e direcione os recursos realmente para as vítimas).

A FAEMA ainda pede disponibilização de terrenos para depósito de barro e entulhos (aliás, não sei onde enfiaram todo o lodo que sumiu das ruas nos últimos 2 dias, ta louco).
Por último, uma ironia para quem conhece a cidade: o principal depósito de lama da região central é o tal "campo do BEC"...

Amigos, não se preocupem, nem cogito parar e muito obrigado pela força e manifestações.

De olho!

4 comentários:

Lenhador disse...

gostei demais do que falasse, acabei de conhecer o blog, e concordo com você, tanto na questão da falta de notícias concretas do nuúmero de mortos, que passa de 50 na região, tenho certeza; quanto no papel de coadjuvante que Blumenau está fazendo para que as estrelas da TV brilhem ;x enfim, to preocupado com nosso futuro, se é que temos um ali na lama.

Anônimo disse...

Tulio, para confirmar: sim, já dá pra entrar no (ou sair do) Progresso, mas, em geral, ainda há o medo de não conseguir fazer o caminho inverso no instante seguinte... Uma das grandes barreiras, que fica um pouco antes do mercado Zoni e que levou uns 3 dias pra ser retirada, já foi jogada no rio (!!) que contorna a via. E parece que mais uma parte desse morro está prestes a cair... Só não sei se esta é a situação do bairro inteiro. Existe pelo menos mais uma muito grande depois, na Bruno Screiber, e dela não tenho notícia. Mesmo assim, a rua está uma lama só! Motoristas e motoqueiros correm grandes riscos de acidentes. Por isso, não aconselho os curiosos a pilotar aqui por enquanto.

E o Jordão já estava acessível desde terça ou quarta-feira desta semana. Passei lá e, por onde fui, as barreiras estavam desobstruídas o tanto suficiente para a passagem de um carro.

Bom trabalho!

Um beijo da Eloísa

Anônimo disse...

Caramba,

Gandola para quem vai apresentar programa sem botar o pé na lama? Tanto trabalho bonito e honesto do pessoal que está aí para ver os figurões sendo paparicados, que chato. Pelo menos estão veiculando imagens da cidade e ajudando a conscientizar das necessidades das pessoas que perderam tudo.
Agora, danceteria chamando para festa é feio, muito feio, é ridículo!!!

Estou imaginando que quando os corpos começarem a ser "contados" a situação ficará muito mais assustadora para aqueles que não estão por aí. Espero que aqueles que já observam a realidade de perto continuem com força para continuarem os trabalhos.

Um grande abraço e muita força para o pessoal do Vale.

Clube de Ciências disse...
Este comentário foi removido pelo autor.