quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Poucas novas e novas velhas

Bueno,

12:00hs de 27 de novembro. As condições psicológicas de manter o relato mais concreto e menos emotivo dão cada vez mais trabalho. Nunca me considerei muito "fresco", mas a realidade está realmente bem pesada. Atualmente, apesar da ridícula divulgação de óbitos confirmados, pelo pouquíssimo que circulei e o que ví, não há quem me convença que as mortes na região Blumenau-Gaspar-Ilhota-Luís Alves se limitem às poucas centenas. Mas vamos lá:
O dia de ontem foi como o anterior, só que com muito mais corpos. É importante fazer o registro de que a geografia da cidade mudou. Morros mudaram de lugar, fora os que simplesmente "encolheram". O número de mortes confirmadas não evolui pelo simples fato de que não é a principal preocupação nesse momento, haja visto que ainda existem comunidades isoladas, alimentadas por helicóptero, mas inacessíveis para resgate por terra. Ainda assim o trabalho é hercúleo, acessos são providenciados em lugares onde parecia impossível e as pessoas estão sendo resgatadas.
Os abrigos parecem bastante bem servidos de roupas, sendo mais necessário alimentos não perecíveis, água potável, material de limpeza leve (vassouras, baldes, detergente, etc) e pesada (pás, enxadas...) para doação, material de higiene pessoal, fraldas (inclusive geriátricas), colchões e cobertores. Com os caminhões circulando, principalmente entre os abrigos centrais, a distribuição está mais efetiva, funcionando agora a partir dos pavilhões da oktoberfest.
Choveu a noite toda, de forma fraca, porém intermitente. Ainda assim os helicópteros do exército não param. Porém as áreas de risco aumentam (conceito que entrou em desuso, até então em Blumenau área de risco era local alagável e morros com risco, mas nessa catástrofe desabou tanta coisa em tanto lugar que praticamente não existe mais "área sem risco"). Essa reunião de enchente, enxurradas, deslizamentos e incêndios fazem com que, mesmo as pessoas que passaram pelas grandes cheias de 83 e 84, quase unanimemente considerem o que ocorre atualmente, muito mais destrutivo e trágico. Para os de fora, naquela época a enchente chegou a 17m, nesse ano o pico foi 11,57m. A enchente foi de médio porte, mas as enxurradas fizeram subir as águas em lugares onde enchente não chega. Muitas galerias destruídas e vazão de água por cima das ruas e não por baixo. Isso é o que faz de Blumenau e arredores particular. Nas outras regiões, em geral o problema é a cheia (sendo em Itajaí calamitosa), mas aqui tem de tudo.
Curtas:
- Os relatos matutinos dão conta de que houveram desabamentos por aí pela madrugada, mas as informações são muito desencontradas e informo quando a coisa for mais confiável.
- a grande maioria das rodovias seguem bloqueadas e não devem ser usadas. Já é possível chegar no litoral e no RS (pela 282), mas possível não significa recomendável, está tudo muito precário ainda. Saída para Massaranduba e 470 completamente bloqueadas e sem previsão para liberação.
- As contas disponibilizadas para doações para Santa Catarina já somam 1,2 milhão (boa!).
- O Lula sobrevoou Itajaí e vai abrir a carteira (boa também!).
- O rio aqui, atualmente, não é mais problema (4,60m acima do nível normal, o que não alaga nada).

Os textos vão ficando de pior qualidade, mas não estou revisando mais, vou priorizando a informação. Sei que quem lê entende.

Correndo e de olho!

4 comentários:

Rolo disse...

Cara,

sei que é difícil, mas não desanime! O teu trabalho (tanto nos abrigos, quanto pela internet) é muito importante! (e ninguém vai ligar pela qualidade literária, oras!)

Boa sorte e muita força!

Anônimo disse...

Tulio,

Estou super feliz em poder acompanhar o seu blog, apesar das notícias não serem nada boas é importante para nós que tenhamos relatos "de dentro" dos acontecimentos!

Queria poder estar aí para ajudar, mas estamos tentando sensibilizar arrecadação de donativos por aqui.

Parabéns pelo seu trabalho!!!
Ainda estou preocupado com o Seu Paulo e com a Luzia, vc sabe alguma informação sobre a toca da onça? É onde eles moram...

Grande abraço e continue com a determinação!
Só não esquece de se cuidar nos trabalhos...

Clube de Ciências disse...

Hoje andei de onibus pela cidade...nem é necessário dizer que tá fod******

Na região que trabalho (Franz Volles) tá tudo bem, mas eplo caminho até lá tudo desmoronou. A escola está recolhendo donativos para entregar nos abrigos. Um aluna minha está desaparecida, o nome dela `Maria Geworowski. Os documentos dela foram achados perto da Vila Germânica...se alguém souber de algo...a família já procurou por todos os abrigos, hospitais e no IML.

Uma amiga minha que trabalha no Santa Catarina me informou que não há legistas suficientes pra identificação dos corpos. No Santo Antônio já são 30 não identificados.

Tulio, gostaria de saber se tem animais no abrigo da Furb, pq tentarei levar ração aí se for o caso.

Boa sorte no trabalho e continue firme...prometo fazer uma polenta pra te alegrar! Ana

Denis Graeff disse...

Tchê, parabéns pelo teu trabalho. Fico emocionado de ler teus relatos, e pode ter certeza que a qualidade literária não importa, como já disse o Rolo.

Tô contigo te apoiando de longe, mas sempre junto. Não desanima que o teu esforço é pela mais alta das causas, e isso vai te motivar a continuar.

Um grande abraço xirú!