terça-feira, 16 de setembro de 2008

Vão-se os mortos, fica o velório



Bueno, hoje foi o sétimo dia. Na terça-feira passada, a FURB foi palco de um fúnebre momento. Um cortejo de servidores partiu da frente da Biblioteca Central rumo à área defronte ao Bloco A, onde o plano de gestão da Administração Superior foi enterrado.
Deve haver infinitas maneiras de interpretar o acontecimento. Destaco dois.
De um ponto de vista, pode-se dizer que foi enterrado o putrefato conjunto de promessas de campanha, de intenções de gestão, de condensadas balelas escritas em material esteticamente agradável e apresentadas quando da campanha para a eleição da reitoria. Sim, putrefato, porque esse plano foi moribundo somente até o episódio da greve, que já fez aniversário. Naquele momento caiu o último crente, naquele momento desfizeram-se os últimos argumentos de quem, por boa vontade, ainda acreditava na boa intenção administrativa e na valorização dos servidores. Alguns restabeleceram alguma esperança, alguns perderam a fé e abandonaram a causa, alguns enterraram o defunto, alguns acompanharam o sepultamento à distância e outros nem viram, mas todos nós seguimos cheirando a carniça.
De outra maneira, podemos pensar que o simbólico enterro é a maneira de expressar o sentimento que nos aflige. O plano enterrado é o mecanismo de dizer aos administradores que a propaganda colorida não nos engana, que as ações tomadas por eles sobrepõe qualquer desejo de acreditar na “administração participativa”, na capacidade de “ouvir os anseios da comunidade” e “valorizar os colaboradores da instituição”. Enterrar aquele plano pode significar que cada vez mais gente acredita que a administração tenha outro plano. Outro plano que vai muito bem e que não nos é revelado, pois é chamado estratégico, pois seria “arma da concorrência”. Outro plano onde a “arma” é usada para nos assaltar e a concorrência, pelo jeito, somos nós.
Seja qual for a maneira de interpretar, o fato é que algo morreu. Nas salas de aula, nas Divisões, nos Centros, nos diferentes Campi continuam trabalhando, os servidores cada vez mais amordaçados, imobilizados, destratados e desmotivados, mas cada vez menos cegos. Podem não nos ouvir, mas não podem nos impedir de ver! E o que cada vez mais vemos é o tal do outro plano.
Se não nos escutam, em breve no lugar do “Sim meu Rei”, as respostas poderão limitar-se aos olhares de quem não cansa de ver.
Se podemos ver, podemos, mesmo após sete dias, continuar velando, todo dia há tempo para um minuto de silêncio em homenagem ao cadáver que nunca viveu.
E o enterrado ainda FEDE!

Continuamos de olho!

3 comentários:

Rafa disse...

Não por nada mas este texto merece um prêmio de melhor comentário em Blog dos últimos tempos. Só pude pensar: Caraca, Animal.
Muito bem Tulio! Ótima metáfora que quase não a é.

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto muito bem redigido; e também pela foto!

Anônimo disse...

Adorei este texto. Espero que os mortos leiam também.